sexta-feira, 22 de junho de 2012

Esperar

   Ele voltou a passar o olhar pela praça apinhada. Espezinhou a beata do seu último cigarro e dispôs-se a continuar a esperar. Estava naquele lugar à cerca de meia hora, e a razão porque esperava teimava em demorar.
   De súbito, um relance. Ali estava ela. Focou o olhar. Era linda, sempre fora, e o seu ar esgazeado, de louca incompreendida, continuava presente. Como ele gostava desse ar... Vestia um uma saia larga, até aos pés, num verde florescente. Ele sorriu de si para si. 
   Vinha de mão dada com um desconhecido. O seu sorriso tornou-se mais amargo. O desconhecido beijou-a na cara e ela sorriu. Parecia feliz... Ele daria tudo para que ela sorri-se assim para ele. Não importava, estava feliz por ela estar feliz.
   Ele era imperfeito, traumatizado. Ela merecia muito melhor. Os seus punhos crisparam-se. Não importa, pensou de novo, ela está feliz, ela está feliz... Mas doía, doía tomar a decisão correcta, doía armar-se em mártir... Talvez fosse melhor assim.
   Eles passaram e desapareceram na esquina de uma rua. Ele levantou-se e caminhou na direcção oposta. Amanhã regressaria para a ver. Tal como sempre fizera. Tal como sempre faria.