terça-feira, 26 de junho de 2012

Pôr do sol

    Ele estava sentado no topo da muralha do velho castelo. Apesar de aquela zona parecer mais sólida, toda a estrutura parecia prestes a desabar e era frequente o som das pedras a cair sobre as lajes, lá em baixo. Nos intervalos entre as quedas, ouvia-se o grasnar dos corvos que habitavam aquela zona da antiga fortaleza.
   Fixava o pôr do sol. Não era um pôr do sol bonito, não era cor de rosa, não mexia com as pessoas. No entanto, ele continuava a olhá-lo, talvez num esforço inglório de absorver uma beleza que nunca compreenderia, mas que necessitava desesperadamente.
   Semicerrou os olhos. Que estava ali a fazer? Porque teria necessidade de se despedir de uma coisa que nunca lhe dissera nada?
   - Olá - ouviu-se uma voz fininha dizer. - Posso?
   Ele olhou para trás de si, e deparou-se com uma pequena rapariga, talvez com 5 anos, que lhe sorria por entre a profusão de sardas que lhe adornava o rosto. Vestia uma grande camisola cinzenta de lã que lhe chegava aos joelhos. O cabelo ruivo brilhava em tons de âmbar, reflectindo o pôr do sol.
  - Que estás aqui a fazer? - perguntou ele surpreendido. Que espécie de mãe deixaria uma criança pequena ali sozinha?
   - Oh, isso, estava a procura de um local bonito para comer isto - disse ela, removendo um embrulho de papel pardo de debaixo da gigante camisola. Abrindo-o, revelou um pãozinho de mel e nozes. - Ganhei-o hoje - disse, sorrindo com orgulho.
   Ele continuou a fixá-la. Ela pareceu esmorecer sob a sua atenta inspecção.
   - Queres um pouco? - perguntou, acrescentando como como incentivo - É doce...
   Ele aceitou o pedaço que ela lhe estendia e sorriu. Ela sorriu de volta e deu uma grande dentada no resto do pãozinho, olhando o pôr do sol e mastigando lentamente, como que reflectindo...
    - A minha mãe dizia que, se esperarmos pela hora certa e formos bons para os que nos rodeiam, surgirá alguém que nos amará de verdade, que ficará connosco independentemente de tudo o que acontecer. Tu já encontraste essa pessoa?
    - Não encontrei. - respondeu ele.
    - Pois, eu também não - disse ela, os olho enchendo-se de lágrimas. - Ninguém parece gostar de mim...
   De repente, abriu os olhos surpreendida. Ele abraçava-a com força. Enterrara a sua cara no cabelo dela e inspirava o seu perfume, natural, doce. Após um longo momento ele afastou-se, mantendo as suas mãos nos ombros dela.
    - Obrigada - disse ele - Não te preocupes, crescer é difícil... Verás que tudo ficará bem, mais cedo ou mais tarde.
   E, com estas palavras, desapareceu no ar da noite, deixando para trás um pôr do sol enublado e um travo a esperança. Ela fixou o local onde ele desaparecera durante um momento. Depois, encolheu os ombros, sorriu e continuou a comer o seu pãozinho.