domingo, 16 de setembro de 2012

Frustração

   Ele desembainhou o punhal e dispôs-se a observá-lo. A luz incidia na superfície, espalhando-se em ondas fluídas, apenas interrompidas onde o metal fora marcado por inúmeros golpes. Emitia uma halo azul. Ele fechou os olhos. Era um azul agressivo que magoava quem o fixasse por muito tempo, um azul ácido... Mas como todos os ácidos, extremamente viciante. Ele desejava reabrir os olhos e deixar-se ser inundado pela sensação.
   Passou o punhal ao longo da pele da perna. O frio do metal deixou um rasto de arrepios, como a carícia de um amante.
   Ele desejava alguma coisa...
   Automaticamente a sua cabeça processou as sensações e comparou-as com o ideal a que aspirava. Rapidamente a sua vibração decresceu a e magia evaporou-se. O punhal tornou-se cinzento escuro novamente. Frustrado, grunhiu para o ar.
   Porque não conseguia ele deixar de pensar? O que o impedia de se deixar levar? Ele queria aquelas sensações... Porque insistia a cabeça dele em pensar sobre elas, impedindo-o de as sentir? Ele desejava, mais que tudo, conseguir ser seduzido, encantado. Poder submergir num mar de sensações, de conseguir afogar-se nelas.
   Todos o pareciam conseguir, excepto ele... Porquê?
   Reveu mentalmente as situações em que se sentira perto... Não conseguia perceber, não conseguia mesmo entender.
   Olhou para o tecto e gritou:
   - Porquê?
   Fixou novamente o punhal. Obrigar-se-ia a sentir, então. Num acesso de raiva abriu um corte fundo no antebraço. Um rasgo de dor. Arfou. Depois sorriu.
   Estava mais perto. No entanto, apesar de agradável, não era isto exactamente.
 
   Era um mistério sem resposta